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quarta-feira, 25 de maio de 2011

TRADUZIR-ME

Uma parte de mim é pro mundo / Outra parte queima em mim bem fundo.
Uma parte de mim é solidão / Outra parte é certeza e gratidão.
Uma parte de mim se desespera / Outra parte pondera.
Uma parte de mim cansa mas anda / Outra parte se encanta.
Uma parte de mim me mente / Outra parte sempre me desmente.
Uma parte de mim, por favor, investigue! / Outra parte é coragem.
Traduzir uma parte na outra parte / É uma questão de busca e norte.
Só com arte? Lá em Marte? Só com arte! Só com arte!
Ferreira Gullar

domingo, 22 de maio de 2011

Universalização: Novo desafio do ensino médio

Escrito por Folha Dirigida - Andréa Antunes
Sex, 13 de Novembro de 2009 13:56
O crescimento no número de matrículas no ensino médio registrado nos últimos anos - entre 1996 e 2007, passaram de 5.739.077 para 8.369.369, um aumento de 41,7%, segundo dados do Inep - ganhou um incentivo a mais com a Lei 12.061/09, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 27 de outubro. De acordo com a lei, a partir de 2010, cabe ao Estado garantir o acesso ao ensino médio gratuito.



A medida foi bem recebida no meio educacional, mas com a garantia da vaga novos desafios estão colocados para governos, escolas e educadores. Um dos principais é reter este aluno na escola. Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretária de Educação do Estado do Paraná, Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde vê a medida como uma sinalização de que estamos avançando na educação. "A lei mostra que temos mais estudantes concluindo o ensino fundamental, o que é positivo. É claro que ainda temos crianças fora da escola, mas avançamos neste sentido. Agora, o desafio é pensar como manter este jovem na escola", diz a secretária, que acredita que com a nova lei o desafio será ainda maior. "A escola terá que se preparar para lidar com um novo aluno. Aquele jovem que antes não chegava à escola e que tem outros interesses. É preciso descobrir o que ensinar para este novo aluno; fazer com que a escola seja interessante para que ele permaneça. Essas são questões que estão postas para os próximos anos", afirma Yvelise Arco-Verde.

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A falta de mão-de-obra e a infra-estrutura das escolas também são obstáculos a serem superados nos próximos anos, mas não são problemas para a execução da lei. "É claro que se tivéssemos um grande aumento na procura por vagas, as redes estaduais não teriam condições de atender à demanda. Mas acredito que a procura irá aumentar aos poucos. Com isso, não haverá problemas para o cumprimento da lei." A evasão escolar também preocupa o presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin Leão. "Este é um dos grandes problemas do ensino médio. Temos que repensar este segmento de ensino para torná-lo mais atraente. Não adianta garantir a matrícula se o jovem não ficar na escola." Na opinião de Franklin Leão, o ensino médio está defasado e não motiva o estudante. "Esta é uma fase de definição para os jovens. É preciso capacitá-los para atender às necessidades do mundo em que vivem. Um mundo marcado cada vez mais pela velocidade. Não podemos preparar o jovem para executar apenas uma profissão. Até porque as profissões estão mudando muito rapidamente. É preciso dar a ele uma formação geral para que possa transitar com tranquilidade neste mundo."



Doutora em educação e professora do programa de pós-graduação da universidade Gama Filho, Nilda Teves defende a universalização, mas destaca que ela traz a reboque uma série de dificuldades. "Quando se universalizou o ensino fundamental tivemos uma queda na qualidade. Isso aconteceu porque antes, como as turmas eram pequenas, a relação professor-aluno era muito mais próxima. Além disso, as famílias eram mais presentes na educação. Hoje, a realidade é outra. O número de alunos aumentou muito e os pais estão mais voltados em garantir a subsistência da família. Isso gerou uma dificuldade. Temos que estar atentos a estes aspectos quando falamos em universalização."



Para garantir um ensino de qualidade, Nilda Teves defende o investimento no professor e na escola. "Não basta fazer treinamento, capacitação. É preciso garantir melhores salários e condições dignas." Assim como a secretária de Educação do Paraná, a educatora acredita que é primordial debater como deve ser a escola do século XXI. "Os jovens de hoje são midiáticos e movidos pelo desejo. Querem tudo rápido, não têm paciência. Como fazê-los esperar mais três anos para concluir o ensino médio antes de ingressar no mercado de trabalho e conseguir dinheiro para comprar a blusa da moda?", questiona Nilda Teves, que vê nesta questão o desafio do ensino médio universalizado. "A juventude tem desejos sociais. O jovem quer diversão e arte. É preciso fazer do ensino médio algo atraente para que seja desejado por esses jovens. Do contrário, não adianta universalizar porque não haverá procura." A Lei 12.061/09 - Sancionada no dia 27 de outubro, a nova lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), que até então obrigava o poder público a garantir somente o acesso ao ensino fundamental - que é responsabilidade dos municípios. Agora todos têm direito ao ensino médio, que é obrigação dos estados. Os custos da medida, em princípio, são de responsabilidade dos estados.

Cristovam Buarque esclarece legislação



Folha Dirigida - Seu projeto muda dois artigos da LDB. Ele propõe a universalização do ensino médio gratuito. O que exatamente isso quer dizer? A escola terá a obrigação de matricular o estudante mesmo que não haja vaga?
Cristovam Buarque - Três medidas podem ser tomadas quando um aluno procurar uma escola. Uma é matricular o aluno na própria escola. Caso não haja vaga, a escola deverá orientar o aluno a ligar para a secretaria de Educação, que indicará uma escola; no caso da secretaria não indicar uma unidade, ele deve se dirigir ao Ministério Público para dizer que o governo do Estado não está cumprindo as leis do país.



Como fica a situação das escolas federais e técnicas de ensino médio em que o ingresso é feito por meio de processo seletivo? Elas estão obrigadas a matricular os alunos?
Essas instituições devem informar que é necessário participar do processo seletivo feito pela escola para conseguir a vaga. Elas vão continuar com seus procedimentos normais. Toda escola que faz um processo seletivo poderá continuar com sua seleção. O que acontece é que, para os alunos que não forem aprovados neste processos, o Estado deverá garantir a vaga em uma de suas escolas.

Quantas pessoas devem ser beneficiadas com a medida?
Posso lhe dizer que são cerca de 4 milhões de jovens que estão dentro de uma idade que podem se interessar pelo ensino médio.



O sr. acredita que as escolas terão condições de atender à demanda ou será necessário contratar novos professores, reformular unidades?
Isso tem que ser feito mesmo sem esta lei. Hoje é uma vergonha dizer que certos prédios são escolas. Parecem escolas, têm nomes de escolas, mas não são escolas. Também é preciso contratar mais professores até para que se possa melhorar a qualificação docente e para que possamos implantar o ensino integral. Agora para este projeto, se os jovens levarem a sério, será preciso contratar mais professores, ampliar salas de aula... Eu fico até muito triste porque provavelmente isto não será necessário, pois no começo a lei não será usada. Eu não estou otimista.



Por quê? a Lei já entra em vigor em 2010.
Sim, mas uma coisa é ela valer e outra é ser usada. A lei não obriga o jovem a se matricular; espero que isso aconteça mais adiante. Por enquanto as escolas é que são obrigadas a garantir a vaga. Espero que comecemos a ter a obrigação de manter o jovem até os 18 anos na escola, mas por enquanto isso não acontece. É triste dizer, mas acho que a lei não será usada no começo.



Por quê?
Muitos jovens não vão tomar conhecimento da lei. Além disso, acredito que muitos não vão querer estudar porque precisam trabalhar e outros vão preferir ficar longe da escola porque com a escola ruim não tem quem amarre o aluno nela. Mas este é um primeiro passo.



O que é necessário para que o jovem se conscientize da importância de concluir o ensino médio?

É preciso que o Presidente da República fale de Educação em cadeia nacional. Toda vez que fizer um discurso, ele deve dizer: "você hoje tem um lei que eu assinei no dia 27 pensando em você. Não deixe de se matricular e se alguém não der a vaga ligue para mim." Com o carisma e o prestígio do presidente, teremos muitos jovens estudando. Além disso, precisamos também que a Xuxa, os jogadores de futebol digam a importância de fazer o ensino médio. É preciso criar uma campanha de conscientização para que a lei seja usada. O Brasil tem lei que pega e lei que não pega. Tem lei que pega, mas não é usada. Essa lei não vai pegar se os governadores negarem vaga nas escolas, mas eles podem estar dispostos a garantir o ensino e não haver procura. O ensino médio no Brasil foi algo da classe média. Hoje, temos gente da classe média baixa entrando. Mas é preciso sobretudo melhorar a escola. Com uma escola ruim os jovens vão se sentir punidos. Por exemplo, um jovem se esforça e vai para o ensino noturno. Chega na escola depois de um dia de trabalho e não tem professor. No dia seguinte ele não volta.



Qual o próximo passo?
O grande esforço é trabalhar para que todos os que hoje estão terminando o ensino fundamental procurem o ensino médio.

Fonte: http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/01/index.php?option=com_content&view=article&id=3484:universalizacao-novo-desafio-do-ensino-medio&catid=1:noticias&Itemid=2